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A Paixão de Cristo na Espiritualidade Franciscana 181957

16/04/2025

Notícias

A Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil está voltada para a celebração da Semana Santa, em suas Fraternidades e demais espaços onde se faz presente. Assim como São Francisco de Assis, a relação dos frades franciscanos com o Crucificado é muito forte e determina, inclusive, a forma de ver e agir perante as mazelas do mundo. Dos tempos da conversão do Santo Seráfico até a atualidade, são profundas as marcas deixadas na história da Ordem dos Frades Menores e de toda a Família Franciscana.

Francisco recebeu os estigmas em seu corpo como resultado da profunda entrega a Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai. Sua história também foi capaz de imprimir na espiritualidade e no carisma franciscano o que há de mais profundo no amor a todas as criaturas, bem como na forma como se relaciona com as dores da humanidade.

Para os franciscanos, viver a Semana Santa também é recordar a história de São Francisco, a partir de sua devoção, obediência e entrega à sua missão como filho de Deus, que sentiu na carne, assim como o Crucificado, a humilhação e o desprezo, sem perder a capacidade de olhar com amor profundo para aqueles que sofrem e são crucificados todos os dias em nossa sociedade.

Frei João Mannes, no artigo “O perfeito amor de São Francisco ao Crucificado”, salienta que:
“Foi ao ouvir o Evangelho acerca da missão dos apóstolos (Mt 10, 7-13), que Francisco compreendeu o real significado da voz do Crucificado, e imediatamente exclamou: ‘É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração (1Cel 8,22)’. Assim, sob o toque ou o apelo de uma afeição, começou devotadamente a colocar em prática o que ouvira, isto é, distribuiu aos pobres todos os seus bens materiais, bem como renegou-se a si mesmo para que, exterior e interiormente livre, pudesse ir pelo mundo e anunciar aos homens a paz, a penitência e, enfim, o amor não amado de Deus.”

Segundo ele, o amor que é Deus realizou-se na sua profundeza, largura e altitude na pessoa de Jesus Cristo.
“A encarnação, o estábulo, o lava-pés e a Eucaristia são expressões concretas do modo de amar como só o Deus de Jesus Cristo pode e sabe amar. Porém, foi especialmente ao entregar incondicional e gratuitamente a sua vida na Cruz, que o Filho de Deus revelou à humanidade que Deus é essencialmente caridade perfeita.”

E, quando descreve o amor do Santo Seráfico por todas as criaturas, assim como o fez Jesus Cristo, Frei João traz a seguinte argumentação:
“O Pobre de Assis, no seguimento de Jesus Cristo, perdeu a sua própria vida, mas recuperou-a inteiramente em Deus, de acordo com a palavra do Evangelho: Quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la (Mt 12,25). Todavia, Francisco não somente reencontrou a si mesmo em Deus, como filho de Deus, mas a todos os seres do universo. O Cântico das Criaturas, que compôs pouco antes de sua morte corporal, é expressão jubilosa dessa intensa experiência ecoespiritual: Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas.”

Diante de tanta inspiração motivada pela Semana Santa e pela vida de São Francisco de Assis, podemos compreender que viver a caminhada de Jesus Cristo ao Calvário é o mesmo que reconhecer nossa pequenez diante do Filho de Deus que, assim como um cordeiro, foi imolado pela expiação dos nossos pecados. As marcas de Sua Paixão são as mesmas que São Francisco recebeu e, na atualidade, são cravadas nos corpos de homens, mulheres, crianças e idosos que sofrem com as guerras, com a fome e com a negação da existência.

A cruz marca toda a vida de São Francisco de Assis. Está com ele no início de sua conversão e no fim de sua vida, quando o santo experimentou o sofrimento de Jesus através de suas chagas. No Dicionário Franciscano, Ignacio Omaechevarría diz que São Francisco foi um homem especialmente marcado pela cruz:
“O mistério da cruz, vivido intensamente por Francisco, tornou-se a força da pregação de seus filhos e fonte de renovação para a Igreja. Merece menção o capítulo 16 dos Fioretti, que não é apenas uma bela página literária, mas encerra em suas linhas um profundo mistério. Eis a conclusão do texto: ‘Finalmente, terminada a pregação (aos arinhos), São Francisco fez sobre eles o sinal-da-cruz e deu-lhes licença de partir; e então todas aquelas aves em bando se levantaram no ar com maravilhosos cantos; e depois, seguindo a cruz que São Francisco fizera, dividiram-se em quatro grupos: um voou para o oriente e outro para o ocidente, o terceiro para o meio-dia, o quarto para o aquilão, e cada bando cantava maravilhosamente; significando que, como por São Francisco, arauto da cruz de Cristo, lhes fora pregado e sobre eles feito o sinal-da-cruz, segundo o qual se dividiram, cantando pelas quatro partes do mundo; assim a pregação da cruz de Cristo, renovada por São Francisco, devia ser levada por ele e por seus irmãos a todo o mundo: os frades, como os pássaros, nada de próprio possuindo neste mundo, confiam a vida unicamente à providência de Deus’.”

Em artigo publicado no site Franciscanos, Frei Celso Márcio Teixeira afirma que:
“A devoção da Via-sacra ou Via crucis tem suas origens bem dentro da espiritualidade franciscana. É de todos conhecida a intensidade com que Francisco meditava sobre a humanidade de Cristo: encarnação, Natal, paixão e, dentro do mistério kenótico do Filho de Deus, a Eucaristia, intimamente ligada à encarnação. Tudo isto, evidentemente, sem anular a divindade de Cristo. Tomás de Celano, ao narrar o encontro de Francisco com o crucifixo de São Damião, exprime-se com uma frase de intenso significado: ‘Desde então, grava-se na sua santa alma a compaixão do Crucificado … , e no coração dele são impressos mais profundamente os estigmas da venerável paixão, embora ainda não na carne’.”

O frade explica em seu texto que “é esta compaixão que leva Francisco a chorar constantemente a Paixão do Senhor. ‘A partir daquela hora – continua o biógrafo –, esclareceu Frei Celso, ainda citando Celano, a alma dele se derreteu. Desde então, não consegue conter o pranto, chora também em alta voz a Paixão de Cristo … Enche de gemidos os caminhos, não ite qualquer consolação, ao recordar-se das chagas de Cristo’.”

A adoração de São Francisco à cruz e sua compaixão o levaram à redação do Ofício da Paixão, meditação que fazia dos salmos que rezava na ótica da Paixão do Senhor. O frade explicou que Francisco lia certos versículos do Saltério sempre ligados ao mistério da Paixão de Cristo.
“E deste conjunto de versículos de diferentes salmos ele compôs o Ofício da Paixão, que rezava sempre como ofício votivo. E esta compaixão vai conduzir Francisco a sofrer com o Cristo sofredor, pois que o identificará com Ele na cruz, imprimindo nele os estigmas no Monte Alverne.”

Que possamos, nesta Semana Santa, imergir no Evangelho e nos exemplos deixados por São Francisco para, de fato, vivenciar a Paixão de Cristo e a sua Ressurreição.

Feliz Páscoa!

Clique e e o Ofício da Paixão do Senhor


Adriana Rabelo Rodrigues